A mera referência, pela presidenta Dilma Rousseff, à convocação de um plebiscito e de uma Assembleia Constituinte com o objetivo específico de realizar uma reforma política deixou a direita (os partidos do campo neoliberal, do PSDB ao DEM, e a mídia conservadora) em polvorosa. Por duas razões principais. A primeira delas foi o fato de a presidenta retomar a iniciativa política e chamar para si a construção de uma resposta adequada aos anseios das ruas, manifestados ruidosamente nestes últimos dias. A outra se liga à perspectiva de uma reforma política democrática capaz de ampliar o protagonismo popular e aprofundar a democracia.
O que se viu, nestes anos em que se tentou uma reforma política, foi o forte esforço dos grandes partidos, sobretudo os partidos da direita para patrocinar mudanças restritivas, favoráveis apenas a seus interesses, reduzindo severamente o espaço dos partidos ligados diretamente ao povo. Daí o impasse criado e, aparentemente, difícil de resolver pelas vias normais do Congresso Nacional.
Mas o pronunciamento de Dilma Rousseff, na segunda-feira (dia 24), foi mais abrangente. Seu sentido foi claro: a necessidade de seu governo ouvir as ruas. Sentido que aponta, frente às manifestações dos últimos dias, uma propensão de seu governo a realizar as mudanças que a nação reclama, ao contrário do que pretendiam aqueles que tentaram manipular, instrumentalizar e dirigir o movimento contra o governo, inclusive levantando de maneira descabida e artificial a ideia disparatada do impeachment da presidenta.
Contra estas pretensões absurdas, Dilma Rousseff agiu com desenvoltura de estadista e chamou para si a responsabilidade de encontrar as soluções para a crise que se desenhava. Virou o jogo. Mesmo que, vinte e quatro horas depois, na terça-feira (dia 25), tenha flexibilizado sua proposta de uma miniconstituinte pela reforma política, que poderá traduzir-se em um plebiscito.
Mas Dilma Rousseff comprometeu-se com o país, para encontrar as respostas exigidas pelas ruas. Ruas que, indica a Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil (reunida na terça-feira, 25, em Brasília), foram palco de “um vigoroso protesto” que, do foco inicial “voltado contra o aumento das tarifas de transporte público”, rapidamente “assumiu bandeiras mais amplas como as reivindicações por melhores serviços públicos nas áreas de saúde, educação, mobilidade urbana e contra a corrupção”.
O PCdoB, reafirmou a Comissão Política Nacional, manifestou a certeza de que “o governo e as forças progressistas precisam ouvir atentamente a voz das ruas e se empenharem para atendê-la”. Ao mesmo tempo em que deixou claro o repúdio partidário contra “atos de violência, vandalismo e destruição” contrários ao brio e “espírito patriótico da maioria dos manifestantes”.
A direção comunista repudiou claramente a tentativa da mídia conservadora no sentido de dirigir as manifestações contra o governo da presidenta Dilma Rousseff, incentivando a “equivocada hostilidade e aversão aos partidos políticos”, e dando “guarida a deploráveis atos de agressão a militantes de legendas de esquerda, promovidos por grupelhos de extrema-direita”.
Com clareza, o documento reafirma o apoio do PCdoB à presidenta Dilma Rousseff e à sua disposição “de ouvir as ruas e de procurar atender às suas reivindicações com agilidade”, refirmado a urgência de reformas para melhorar a vida do povo e avançar e aprofundar a democracia.
O PCdoB acentua, também, com a urgência em “romper o cerco do conservadorismo e realizar uma reforma política democrática ouvindo amplos setores da sociedade”, que seja capaz de coibir a “influência do poder econômico nos processos eleitorais, com adoção do financiamento público exclusivo das campanhas”, fortaleça os partidos políticos e institua formas de democracia participativa e direta. O Partido também apoia o combate ainda mais severo à corrupção.
“As ruas dizem que as conquistas iniciadas [em 2003 – nota da Redação] não podem parar e que as mudanças precisam ser aceleradas, uma vez que um decênio de mudanças é insuficiente para superar a enorme desigualdade social herdada de séculos de história”, afirma o PCdoB. E o governo de Dilma Rousseff pode sair deste processo ainda mais fortalecido ao contrário do que sonham a direita e sua mídia conservadora. As ruas são o palco da ação do povo, e também o cenário da luta contra a direita de feição fascista. Ouvir a voz das ruas e indicar o caminho progressista para atender a seus reclamos – este é o rumo para avançar e fortalecer o poder popular. É o caminho a seguir para manter o país na rota das mudanças e da consolidação da democracia.